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O Correio

Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do Brasil, gastou mais de R$ 1,2 milhão no plano para sequestrar e matar o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil), além de outras autoridades. A informação foi encontrada nos registros contábeis da quadrilha, apreendidos pela Polícia Federal durante as investigações da Operação Sequaz, que desarticulou os ataques.

Os documentos revelam que o grupo criminoso deixava tudo organizado em planilhas, com tudo o que foi desembolsado no plano para matar as autoridades. A PF encontrou nos arquivos inúmeros pontos como, por exemplo, alimentação, combustível, aluguel de imóveis e até mesmo o valor a ser pago para os pedreiros responsáveis por construir o cofre onde seriam guardadas as armas.

Elaborado pelo Grupo Especial de Investigações Sensíveis (Gise), o relatório conta com a assinatura do delegado Martin Bottaro Purper e foi obtido pelo jornal O Globo. Uma testemunha revelou informações sobre os dados, encontrados em celulares e e-mails trocados pelo PCC.

De acordo com a polícia, essa testemunha seria um ex-integrante da facção, que após ser jurado de morte, decidiu delatar os antigos companheiros de plano.

Ainda segundo a investigação, a quadrilha usava códigos para planejar a ação e identificar o alvo. Nas mensagens trocadas entre os criminosos, Moro era “Tóquio”; sequestro, “Flamengo”; e ação, “Fluminense”.

Os integrantes da organização monitoraram os passos de Moro, levantando uma série de dados pessoais do ex-juiz e sua rotina. Considerando a possibilidade do atentado ainda no segundo turno da eleição, eles chegaram a fazer um detalhamento do local de votação do senador eleito.

 

A Polícia Federal pediu a prisão de 14 investigados, mas a  juíza federal Gabriela Hardt, da 9ª Vara Federal de Curitiba, mandou prender 11. Sete ordens são preventivas – três decretadas contra mulheres – e quatro são temporárias. Nove investigados foram presos. Oito foram capturados em São Paulo e um já se encontrava custodiado.

Outros alvos
Enquanto a frente principal da Operação Sequaz prendia integrantes da quadrilha que planejava sequestrar o senador Sergio Moro, uma outra parte da ofensiva vasculhava endereços nas capitais de Mato Grosso do Sul e Rondônia onde, segundo os investigadores, há registros da presença da ‘Restrita’ – núcleo do PCC encarregado de eliminar ex-integrantes da facção e atacar autoridades e agentes públicos. Ao requerer os mandados de busca e apreensão a serem cumpridos em Campo Grande e Porto Velho, a Polícia Federal qualificou os endereços alvo como ‘apartamento PCC/MS’ e ‘chácara PCC/RO’.

A PF solicitou as diligências após ver indícios de ações da quadrilha ligada ao PCC nesses locais. As atividades eram anteriores ao plano de sequestrar Moro e foram identificadas durante a análise de anotações interceptadas nas contas em ‘nuvem dos criminosos’.  A juíza Gabriela Hardt destacou que as imagens denotam ‘a existência de outros trabalhos em andamento’.

A busca realizada em Campo Grande mira um apartamento cujo endereço foi levantado a partir de uma foto encontrada em conta vinculada a Janeferson Aparecido Mariano, o ‘Nefo’, apontado como um dos líderes da ‘Restrita’ e principal articulador do plano de atentado contra Moro.

Moro x Lula
A polêmica declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o plano do PCC para matar Sergio Moro segue agitando os bastidores da política nacional. Na ocasião, Lula disse que o caso seria uma “armação” do ex-juiz da Lava Jato

O vice-presidente Geraldo Alckmin publicou um vídeo defendendo e parabenizando a ação da Polícia Federal.  “O governo não se curvará diante de ameaças criminosas. O Estado brasileiro não admitirá ameaças à ordem pública e nem ameaças à sua população”, disse Alckmin. O vice-presidente também parabenizou o Ministério Público de São Paulo e o Ministério da Justiça, além dos funcionários de segurança pública.

Após a fala de Lula, ministros decidiram que a partir de agora irão orientar o presidente para evitar desgaste. Na sexta-feira, o senador Moro não se pronunciou sobre o assunto, mas na quinta já havia dito que  “se acontecer alguma coisa com a minha família, a responsabilidade está nas costas do presidente”.