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Até o momento, ao menos 90 pessoas foram encontradas mortas na floresta Shakahola, no leste do Quênia, onde uma seita levou seus membros a praticar jejuns extremos com o intuito de “conhecer Jesus”. Entre as vítimas do grupo estariam vários menores, segundo a imprensa local. A informação foi confirmada por um legista, que falou com a agência de notícias AFP em condição de anonimato:

— A maioria dos corpos exumados é de crianças — disse o profissional, acrescentando que foram encontradas covas com até seis pessoas em seu interior.

A informação também foi confirmada por um membro da Direção de Investigações Criminais da polícia queniana.

Hussein Khalid, diretor executivo da ONG Haki Africa, responsável por denúncias que levaram as autoridades a investigar o caso, disse que o culto fazia crianças jejuarem primeiro, seguidas das mulheres e dos homens. Segundo ele, cerca de 50% das vítimas seriam crianças.

— O horror que vimos nos últimos quatro dias é traumatizante. Nada te prepara para covas rasas com crianças — disse Khalid.

A grande quantidade de cadáveres encontrada pelas equipes de buscas provocou a superlotação do necrotério do hospital local. Contêineres refrigerados foram pedidos para a Cruz Vermelha, informou Said Ali, chefe do hospital.

— Não vamos cavar nos próximos dois dias para ter tempo de fazer as autópsias, porque os necrotérios estão cheios — disse à AFP um responsável da Direção de Investigações Criminais (DCI).

As autoridades continuam vasculhando uma floresta de mais de 300 hectares, perto da cidade costeira de Malindi, para localizar mais valas comuns. A descoberta chocou toda a nação, e o presidente William Ruto prometeu reprimir aqueles que “usam a religião para promover seus atos hediondos”.

Em visita à área de buscas, o ministro do Interior, Kithure Kindiki, alertou que o número de vítimas pode aumentar.

— Não sabemos quantas valas comuns, quantos corpos encontraremos — disse Kindiki.

Ele acrescentou que 34 pessoas foram encontradas vivas na floresta. Kindiki evocou a possibilidade de que Paul Mackenzie Nthenge, o “pastor” da chamada Good News International Church, que promoveu o jejum entre seus seguidores para “conhecer Jesus”, seja acusado de “terrorismo”.

De acordo com a Cruz Vermelha do Quênia, 212 pessoas foram dadas como desaparecidas. Muitos acusam as autoridades policiais e judiciárias de demorarem para agir. Nthenge já havia sido preso duas vezes, a última em março deste ano, após um caso em que duas crianças morreram de fome.

No entanto, ele foi solto após pagar uma fiança de cerca de US$ 700. O taxista que se tornou “pastor” em 2003 se entregou à polícia na noite de 14 de abril.

A tragédia reacendeu um debate sobre o controle do culto religioso no Quênia, um país predominantemente cristão, onde “pastores”, “igrejas” e outros movimentos religiosos marginais estão frequentemente nos noticiários.

Fonte: OGLOBO