EDITORIAL: A CAMPANHA FRATERNIDADE E SAUDE PÚBLICA PODE SALVAR O HOSPITAL.
Na semana próxima passada, fiz mais um editorial sobre a preocupante situação em que vive o Hospital e Maternidade de Itororó que, para algumas pessoas da comunidade local, está preste a fechar as portas. Entretanto, o artigo que não trazia qualquer pretensão política, incomodou alguns eleitores contrários ao prefeito do município porque, em seus comentários, eles insistiram em atribuir ao alcaide a responsabilidade pela grave situação por que passa a instituição.
Creio que é quase impossível vencer a ignorância de certas pessoas pela dialética, mas insisto em dizer que, para o município de Itororó investir no Hospital local, é necessário que, antes, esta instituição desista de ser privada, e se faça pública.
Contudo, pessoalmente, não acho uma boa ideia transformar a Fundação Hospital e Maternidade de Itororó em uma entidade de natureza pública. Sob a responsabilidade do estado, até que dá para arriscar, mas, pô-la sob a responsabilidade do município, passa a ser temeridade.
Primeiro, porque o município não tem recursos disponíveis suficientes para, adequadamente, manter o Hospital. Isto, depois de conseguir reequipá-lo porque, de acordo com certas informações, está faltando-lhe quase tudo de que um hospital precisa. Segundo, porque os riscos de uma gestão pública municipal para a instituição são muito grandes. Na regra geral, as administrações municipais são sempre muito políticas, e o risco do Hospital vir a ser no futuro um cabide de emprego é bastante real. Por isso, volto a insistir que o melhor para esta casa de saúde é continuar pertencendo à Fundação, e a sociedade de Itororó mobilizar-se para salvá-la.
Coincidentemente, neste último domingo, ao assistir à missa, tomei conhecimento, por meio do Semanário Litúrgico, folheto usado pelos fiéis para acompanharem a celebração, que a Campanha da Fraternidade da Igreja Católica para este ano adotou o seguinte título: “Fraternidade e Saúde Pública”. Achei que o tema da campanha vinha a calhar com a salvação do Hospital e Maternidade de Itororó.
O objetivo geral da campanha da CNBB será promover ampla discussão sobre a realidade da saúde no Brasil e das políticas públicas da área, para, assim, contribuir na qualificação, no fortalecimento e na consolidação do SUS, com vista à melhoria da qualidade dos serviços, do acesso e da vida da população. Mas, a comunidade cristã de Itororó poderá aproveitar a oportunidade desta campanha para desenvolver um trabalho particular, com vista à preservação do único hospital da cidade, sem, com isso, fugir do objetivo geral da Campanha da Fraternidade para este ano.
A Campanha da Fraternidade, realizada anualmente pela Igreja Católica no Brasil, sempre ocorre no período da Quaresma. Seu objetivo é despertar a solidariedade dos seus fiéis e da sociedade em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução. A cada ano é escolhido um tema, que define a realidade concreta a ser transformada, e um lema, que explicita em que direção se busca a transformação. Para este ano, o tema é “Fraternidade e Saúde Pública” e o lema é “Que a Saúde se Difunda Sobre a Terra”.
Ao desenvolver a campanha no município de Itororó, a Igreja Católica poderia focar a maior parte de seus esforços para ajudar o Hospital da cidade. Para isso, não só convocaria a comunidade católica local, mas, igualmente, a comunidade evangélica para integrar-se à campanha. Com isso, far-se-ia um trabalho ecumênico em que, pela primeira vez, no município, todos os esforços cristãos, coordenados pelas Igrejas, estariam voltados para o mesmo objetivo.
A campanha no município de Itororó poderia ser desenvolvida em, pelo menos, duas dimensões, como nos ensina o Padre Anísio Baldessin, Coordenador da Campanha na Arquidiocese de São Paulo. Na primeira dimensão, a campanha procuraria promover a importância da saúde do cidadão, dando ênfase à saúde pública e ao saneamento básico, ao destacar a prevenção das enfermidades e a promoção dos estilos de vida saudáveis. Já, na segunda dimensão, a político-institucional de que nos fala o padre Anísio, a campanha voltaria sua atenção para os organismos e instituições públicas e privadas que prestam serviço à saúde. É, aí, que passaria a cuidar da questão do Hospital e Maternidade de Itororó.
Não é minha intensão ditar os caminhos da campanha no município que devem ser discutidos e definidos pelos grupos de trabalho, criados para esse fim. Mas, não seria nada de mais dizer que deveria ser criada uma comissão com o objetivo de procurar a direção do Hospital para tomar conhecimento de sua posição a respeito da mobilização para ajudar esta instituição, e uma outra comissão para avaliar as reais condições desta casa de saúde.
Hoje, somente se sabe das condições do Hospital pelo ineficiente atendimento médico-hospitalar, e através dos comentários que circulam pela cidade. A sua direção nunca veio a público para expor a real situação em que vive a instituição. Por isso, antes de qualquer mobilização popular seria necessário a criação de uma comissão de alto nível para discutir o assunto com a direção da instituição.
Em verdade, o que a sociedade local não pode é perder a oportunidade, criada pela Campanha da Fraternidade deste ano, para tomar conhecimento da real situação do Hospital e Maternidade de Itororó e, se necessário, mobilizar-se para salvá-lo, antes que seja tarde para qualquer salvamento.
Texto: Djalma Figueiredo
como se fosse preciso alguem dizer que o hospital esta falido … presisamos fazer alguma coisa agora.