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Pela primeira, após 40 anos, a jornalista Míriam Leitão falou sobre os três meses em que ficou presa em 1972, durante a ditadura militar. Grávida, aos 19 anos, a jornalista que iniciava a carreira foi torturada pelo coronel Paulo Malhães, em Vitória (ES) – morto em abril de 2014 -, com uma jiboia. “Eu não tinha noção de dia ou noite na sala escurecida pelo plástico preto. E eu ali, sozinha, nua. Só eu e a cobra. Eu e o medo. O medo era ainda maior porque não via nada, mas sabia que a cobra estava ali, por perto. Não sabia se estava se movendo, se estava parada. Eu não ouvia nada, não via nada. Não era possível nem chorar, poderia atrair a cobra. Passei o resto da vida lembrando dessa sala de um quartel do Exército brasileiro”, relatou Míriam ao colega de profissão, Luiz Cláudio Cunha, no Observatório da Imprensa. A jiboia, que por infeliz coincidência recebeu o nome de Mirian, foi achada por Malhães no Araguaia (TO), onde o coronel atuou no combate à guerrilha. “Minha vingança foi sobreviver e vencer. Por meus filhos e netos, ainda aguardo um pedido de desculpas das Forças Armadas. Não cultivo nenhum ódio. Não sinto nada disso”, afirmou Míriam Leitão.