A Polícia Militar de São Paulo encontrou uma lista, feita por criminosos de uma facção, com nomes de policiais militares e policiais civis marcados para morrer. Segundo informou nesta quarta-feira (31) o Comando de Policiamento da PM na capital, o documento foi apreendido dentro de uma mala juntamente com dois irmãos adolescentes no início da noite de terça-feira (30) durante a Operação Saturação na favela de Paraisópolis, na Zona Sul da cidade.

Também foi localizado o balanço da movimentação financeira do tráfico de drogas na região. O material deverá ser levado para a Polícia Civil, que investiga a onda de violência que assola o estado.

Os menores de idade detidos com a lista estavam tentando sair da comunidade. Desde segunda-feira (29), Paraisópolis foi ocupada por tempo indeterminado após o serviço de inteligência das forças de segurança do estado ter informações de que partiram dali as ordensde bandidos para matarem os agentes da lei.

Aproximadamente 40 nomes de policiais militares e outros dois de policiais civis estão na lista, escrita à mão pelos criminosos para ser repassada a outros integrantes da facção que age dentro e fora dos presídios paulistas. A ordem é matar dois policiais para cada criminoso morto. O motivo seriam execuções praticadas por PMs contra os criminosos.

Desde janeiro, 86 PMs já foram assassinados. Trinta e sete deles foram mortos com características de execução. Na maioria dos casos, os criminosos usaram motos para praticar os homicídios e fugir em seguida.

Lista
“Posso confirmar oficialmente, em nome da PM, que o 16º Batalhão apreendeu uma mala, apreendeu também documentação dos criminosos e apreendeu menores tentando retirar essa mala do local. Na mala tinha uma lista com nomes de PMs e de policiais civis que estavam marcados para morrer”, disse o coronel Marcos Roberto Chaves, comandante de Policiamento da PM na capital.

De acordo com o comandante, os documentos da facção que foram apreendidos na Operação Saturação corroboram a suspeita do serviço de inteligência das forças de segurança de que as ordens para matar alguns PMs partiram realmente da Zona Sul. A lista possui descrições de cada um dos policiais, como rotinas, trajetos do trabalho para casa, características físicas e etc.

“As ordens estavam partindo dali, segundo o serviço de inteligência. Para confirmar todo esse trabalho foi preciso entrar num dia específico na favela de Paraisópolis. Não podia ser durante as eleições porque a lei eleitoral não permitiria algumas prisões, exceto em flagrante delito”, afirma o comandante.

“Essa documentação é uma prova importante que será analisada para saber se tem relação com os ataques que tivemos. Ela tem muitas informações, além dos ‘salves’ [ordem dos ataques], tem como é feito o batismo dos novos integrantes”, explicou o coronel.

No entendimento do comandante da PM na capital, apesar de os ataques com mortes não terem cessado, com novos casos registrados na madrugada desta quarta-feira, ele entende que a ação policial está desarticulando as ações do grupo criminoso. “Estamos sufocando esses criminosos, mas é preciso mudar a legislação com leis mais duras e não benéficas ao marginal”, disse Chaves.

Criminosos presos
De acordo com a PM, até esta quarta, 20 criminosos são procurados por suspeita de participação em ataques que mataram policiais militares. Outros 20 suspeitos foram mortos em confrontos com a polícia e 129 bandidos estão presos.

Um desses detidos é o traficante Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, investigado como o mandante das ordens para matar PMs. Policiais civis informaram que a lista com nomes de agentes marcados para morrer, encontrada na terça pela PM, deverá ser atribuída ao criminoso preso. Para isso, deverá ser entregue ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga a morte dos policiais.

Piauí está preso desde agosto em Avaré, interior de São Paulo, após ter sido recapturado pela PM e Polícia Federal em Itajaí, interior de Santa Catarina. Ele havia fugido em maio deste ano durante a saída temporária do Dia das Mães. O homem tinha sido preso a primeira vez em 2008 por porte ilegal de arma, receptação, roubo, sequestro, falsidade ideológica e homicídio.

Recentemente passou a ser apontado também como responsável pela morte de seis policiais militares neste ano. Quando fugiu, foi flagrado em interceptação telefônica ordenando a morte desses PMs. Existe a possibilidade de a polícia pedir a transferência de Piauí para a Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior paulista, por ser considerada de segurança máxima. Lá estão outros integrantes da facção, que são considerados perigosos e influentes dentro do grupo criminoso.

A lista apreendida em Paraisópolis ainda possui o organograma da facção, com nomes de criminosos que deixaram de cumprir as ordens criminosas para executar os policiais. Para eles seriam aplicadas penas, decididas em uma espécie de “tribunal do crime”.

Os “julgamentos” ocorreriam dentro de um imóvel na favela. Foi de lá que a documentação apreendida teria saído com dois irmãos gêmeos. Um homem responsável pelo local é suspeito de ter passado o material para os adolescentes, que têm 17 anos, quando percebeu que a PM cercou a comunidade.

Toque de recolher
Por conta da ocupação, moradores da favela, e de outras comunidades carentes onde ocorreram assassinatos, chegaram a relatar que criminosos em motos passaram ordenando que o comércio, escolas e ônibus não funcionassem durante as noites por conta de um toque de recolher.

Em entrevista coletiva na terça, o secretário da Segurança Pública do Estado, Antonio Ferreira Pinto, negou a informação, chamando-a de “boataria”. Em meio a onda de mortes, o governo de São Paulo e o governo federal divergiram sobre uma possível ajuda para combater a violência no estado paulista. Ferreira Pinto confirmou nesta terça-feira que ordens para assassinar policiais partiram de Paraisópolis.

Nesta quarta, a PM também realiza incursão à favela São Remo, na Zona Oeste da capital, em cumprimento a oito mandados de prisão e 13 mandados de busca e apreensão de suspeitos de participar da morte de um policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) neste ano.