É muita mágoa o que se percebe nos olhos de Gonzaguinha (Júlio Andrade) nos primeiros minutos de “Gonzaga – De Pai para Filho”, cinebiografia de Luiz Gonzaga, que estreia nacionalmente nesta sexta-feira (26/10).

A história do rei do baião, da vida no sertão de Pernambuco até a glória como um dos ícones da música nacional, por si mesma é interessante. No novo filme do diretor Breno Silveira, mesmo diretor do sucesso “2 Filhos de Francisco”, a saga de Gonzagão ganha contornos mais humanos com o fio narrativo baseado na relação conturbada entre o pai e filho de personalidades conflitantes.

De um lado, Gonzaga, de origem pobre e conservadora, que conseguiu a fama através do trabalho. Do outro, Gonzaguinha, jovem universitário que utilizava a música como forma de protesto durante a ditadura militar. Somado às diferenças, um passado de relação familiares desgastadas, marcadas por tragédias e problemas de relacionamento.

Foi o desejo de conhecer o pai ausente que leva Gonzaguinha a gravar as entrevistas que deram origem ao filme. A força contida nas 15 horas de gravação já tinham sido utilizadas no livro“Gonzaguinha e Gonzagão: Uma história brasileira”, de Regina Echeverria, e também impulsionaram o longa. “A partir da minha emoção com o que estava ali naquelas fitas, resolvi fazer o filme”, conta Breno Silveira.

Através do encontro dos dois Gonzagas, para ajustar as contas, se conhecerem e buscarem o perdão um do outro, o filme narra a história de Gonzagão, seus percalços para chegar até a fama, o auge da música do Nordeste e o seu declínio.

Entre uma cena e outra, imagens de arquivo, fotos e gravações dão um caráter documental à história. “Não estava no roteiro, no último momento da edição a gente começou a botar uns trechos de Gonzaga. Percebi que ele era maior do que a gente estava fazendo”, conta o diretor. A gravação mais emocionante é do show  “A Vida do Viajante”, de 1981, que marca a reconciliação de pai e filho.

Os atores do filme impressionam por sua semelhança com os personagens e por serem estreantes. Para escolher os dois atores que fizeram Gonzagão, a equipe do filme passou por 5 mil candidatos inscritos até chegar em Chambinho do Acordeão, que faz a idade intermediária, e Adélio Lima, o Gonzaga mais velho. Júlio Andrade é quem emociona por sua interpretação e semelhança com Gonzaguinha.

“Esses caras, apesar de não serem atores profissionais, recriaram um Gonzaga muito interessante e genuíno e muito parecido com o próprio Gonzaga. Foi uma sorte e foi uma loucura ter apostado nisso”, diz Breno.

“Gonzaga – De pai para filho” é um filme emocionante sem cair na pieguice, com uma boa história e uma produção bem cuidada, com uma boa reconstituição de época e afinada trilha sonora, fruto de um orçamento de aproximadamente R$12 milhões. Como define o seu diretor, é “cinemão na veia, bem feito, bem filmado e com excelentes interpretações”.  Tribuna da Bahia.