EDITORIAL: OS GRANDES ERROS POLÍTICOS DO EX-PRESIDENTE LULA
A volta do ex-presidente Lula às atividades políticas, após a cirurgia que realizou para erradicar um tumor na laringe, tem feito muita gente pensar que o ex-presidente não voltou bem da cabeça, tamanhos são os equívocos políticos que ele vem praticando, ultimamente.
Entretanto, creio que o problema de Lula é que fizeram dele o guru político do Brasil e, em seguida, deixaram que o prestígio e a popularidade alcançados subissem-lhe à cabeça. E, nessa situação, qualquer mortal tende a se sentir o rei do pedaço, principalmente aqueles que, desde cedo, não foram preparados para tamanha exaltação.
É evidente que ninguém pode duvidar da estrela de Lula e do seu imenso poder de comunicação com as massas. Mas, muitos outros políticos também tiveram essas qualidades, além de uma respeitável formação acadêmica, ainda assim, não brilharam tanto quanto ele.
A sua intervenção na política da cidade de São Paulo foi desastrosa para o PT, como o foi para os seus companheiros a ideia maluca de pressionar os ministros do Supremo Tribunal Federal para adiarem o julgamento do caso, conhecido como Mensalão.
Mas, depois de impor com sucesso ao PT e aos partidos políticos que viviam na órbita de seu governo, a candidatura da presidente Dilma, Lula achou que, no reino da política, podia fazer de tudo. Afinal, ele era ou não era o dono da bola, no grande jogo político do Brasil?
Daí, para Lula achar que as suas intervenções nos assuntos políticos de interesse de seu partidário eram bastantes normais, foi apenas uma questão de tempo que, de forma alguma, não pode ser confundido com consequências pós-operatórias. Contudo, o grande erro do ex-presidente Lula, como também dos ditadores e de muitos políticos, é imaginar que a sua vontade pessoal é também a vontade dos companheiros ou, até mesmo, do povo.
De sorte que, quando Lula voltou os seus olhos para a cidade de São Paulo e decidiu que o candidato do PT a Prefeitura dessa metrópole seria o seu pupilo Fernando Haddad, ministro da educação de seu governo, ele nem um pouco atentou para a certeza de que o seu gesto estava preterindo duramente a candidatura da companheira senadora Marta Suplicy à Prefeitura da mesma cidade.
Como se diz no linguajar do povão, Lula acabava de queimar a candidatura de uma senadora companheira de partido, ex-prefeita da mesma cidade que, nas pesquisas de opinião, despontava-se como a candidata preferida do PT. Nesse caso, Lula agiu à semelhança de Antônio Carlos Magalhães na Bahia: “manda quem pode e obedece quem tem juízo.”
Mas, o pior viria ainda depois. Após colocar a senadora Marta Suplicy para escanteio, Lula passou a correr atrás dos meios de viabilizar politicamente a candidatura de seu pupilo. Para isso, mais uma vez, sacrificou a candidatura de um companheiro de partido.
No Recife, Lula fez o seu partido preterir em favor do candidato do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a reeleição de João da Costa que é filiado ao PT. Em troca, a facção de São Paulo do partido do governador, o PSB, passaria a apoiar a candidatura do pupilo de Lula.
Não satisfeito, Lula foi a procura do apoio de Paulo Maluf e do seu partido, o PP. O gesto de Lula que deixou insatisfeito muitos de seus companheiros, fez com que a candidata a vice-prefeita de Fernando Haddad, deputada federal Luiza Erundina, desistisse de participar da chapa. Até este momento, o afastamento de Marta Suplicy da campanha petista e a renúncia de Luiza Erundina estão sendo considerados como fatos decisivos para as pretensões do PT à Prefeitura de São Paulo.
Outra triste ação de Lula foi abordar os ministros do Supremo Tribunal Federal, para tentar convencê-los a adiar o julgamento do Mensalão de agosto próximo para o ano que vem. A ideia era evitar o impacto do resultado do julgamento nas eleições municipais deste ano, contar com a prescrição de alguns crimes denunciados pelo Ministério Público e, ainda, com a substituição por aposentadoria de dois ministro, tidos com contrários aos réus.
Entretanto, o mais grave das abordagens feitas pelo ex-presidente, segundo o ministro do STF, Gilmar Mendes que, também, encontrou-se com Lula, foram as ameaças e tentativa de chantagem do ex-presidente.
O fato que, pela gravidade, repercutiu de forma negativa para o PT e o ex-presidente em todo o país, levou os ministros a marcarem imediatamente o julgamento do Mensalão para agosto próximo, e a fazer a mídia e a opinião publica posicionarem-se contrárias aos réus. A ação de Lula foi um tiro no próprio pé. Como, aliás, tem sido um tiro no pé a ação de muitos políticos por esse Brasil a fora, os quais não atentam nunca para as terríveis consequências de seus atos políticos quando resolvem praticá-los.
Texto: Djalma Figueiredo