EDITORIAL: O MAU POLÍTICO NÃO DESISTE NUNCA
Embora a Justiça tenha assegurado a validade do ato da Câmara Municipal de Itororó que colocou Marco Brito inelegível para as eleições deste ano, acabei lendo, esta semana, em um blog da cidade de Itapetinga, uma declaração do ex-prefeito confirmando sua intenção de comparecer à convenção de seu partido, PMDB, para ser indicado candidato a prefeito deste município.
Até, acho válida a disposição de Marco Brito. Afinal, segundo o dito popular, o brasileiro não desiste nunca. Quem sabe se, em sua procura pelos tribunais brasileiros, o ex-prefeito não encontra um magistrado avesso à Lei da ficha Limpa que, acabe decidindo a questão a seu favor? E, depois, o ex-prefeito não deve deixar os milhares de seus eleitores frustrados por antecipação. Pelo menos, até as eleições, eles precisam acreditar que, ainda, vão votar no seu líder.
E, para que o faça, esses eleitores pouco estão importando se Marco Brito realizou a administração mais corrupta da história política de Itororó e, por isso, está inelegível. Eles pensam e agem como os eleitores do ex-presidente Lula que, embora tenha feito o governo mais corrupto da república brasileira, continua sendo para eles o político preferido para governar o país.
E, quem o diz, não sou eu. No caso do ex-prefeito, o Tribunal de Contas dos Municípios que rejeitou suas contas e o Ministério Público que resolveu denunciá-lo à Justiça. No caso do ex-presidente, o processo do mensalão que deverá ser julgado a partir de agosto pelo Supremo Tribunal Federal.
Portanto, se depender apenas de conscientização política do brasileiro, este país não vai moralizar-se, politicamente, tão cedo. E, por muito tempo, o povo vai continuar vendo que o desvio de recursos públicos e o enriquecimento ilícito de governantes e assessores não são motivos suficientes para impedir que os maus políticos retornem ao poder.
Afinal, ética na política nunca foi uma lição bem assimilada pelo brasileiro que sempre preferiu o tapinha nas costas, a pequena ajuda política e o emprego na administração pública, a ter de usar o bom senso para dar o voto de forma correta.
Que defendam a candidatura de Marco Brito aqueles que tiraram largo proveito de suas duas gestões a frente do município, é perfeitamente compreensível. Afinal, eles sabem que vão voltar junto com o ex-prefeito e que tudo vai ser com era antes. Mas, que muitos outros cidadãos de Itororó façam o mesmo ou, então, permaneçam indiferentes diante da possibilidade da volta da corrupção ao município, é muito difícil de aceitar.
Que Edineu não queira concorrer à Prefeitura este ano, com um candidato próprio, também dá para entender. Afinal, ele e sua família estão passando por momentos difíceis. Mas, que desista do seu projeto político para apoiar a candidatura de Marco Brito, confesso que eu mesmo nunca vou entender. E, com certeza, centenas de outros eleitores que votarão contra esse apoio, também não.
O município de Itororó não pode andar na contramão da moralização política que, mesmo com dificuldades, o país começa a empreender. A Lei da Ficha Limpa, fruto da luta incansável de milhões de brasileiros, não foi aprovada pelo Congresso Nacional para a população de municípios como Itororó ignorá-la ou jogá-la no lixo. O mínimo que o país espera de seus cidadãos é que, a partir desta eleição, cada eleitor vote sempre contra todo e qualquer ficha suja que se ousa lançar candidato a cargo público. Com essa atitude moralizadora, um novo Brasil de que todos os brasileiros possam orgulhar-se, pode ser construído.
Mas, para que o povo brasileiro possa fazer a sua parte, será preciso que os partidos políticos assumam a responsabilidade de não lançar candidatos ficha suja aos cargos eletivos. A começar pelas eleições municipais deste ano, em que os eleitores vão eleger prefeitos e vereadores.
Mas, infelizmente, a gente sabe que, em muitos municípios como Itororó, esperar pela ação moralizadora dos partidos políticos é esperar pelo improvável. Nesses municípios, cada partido tem o seu dono absoluto e, às vezes, ele mesmo é um ficha suja.
Além disso, é sempre o dono do partido que, sozinho, decide quem será o candidato a prefeito e os candidatos a vereador. E, para essa decisão, ele nunca leva em conta a ficha dos candidatos, a começar pela sua quando resolve que será ele próprio o candidato do partido.
Texto: Djalma Figueiredo