Embora todo mundo saiba que a política pode unir os parceiros mais estranhos, eu mesmo não consigo acreditar que a anunciada união entre os grupos políticos de Edineu e Marco Brito não passa de uma farsa.

Para mim, eles  podem fazer carreatas e passeatas, subir em palanques e dar as mãos que, mesmo assim, ainda me mantenho incrédulo quanto a essa esdrúxula parceria.

Continuo dizendo que, em política, tudo pode acontecer. Mas, o que acontece, sempre vem em nome do interesse pessoal, da certeza de  vantagens políticas e econômicas,  que não vejo como a inexplicável união de Marco e Edineu possa carrear para os dois espertos políticos. A não ser que, é bom que se diga,  um venha a comprar o apoio do outro, em dinheiro vivo. Uma espécie de mensalão de Itororó.

Mas, dinheiro para realizar esse tipo de  operação todo mundo sabe que nenhum dos dois chefes políticos locais têm. E, em promessas, para depois que um ou outro assumir o poder, eles não vão apostar. E com  razões de sobra.

Marco acabou de sair de uma perigosa  combinação política-financeira que não podia dar certo e, provavelmente, não vai apostar em outra. Edineu sabe que não pode confiar em Marco Brito, porque lhe deve  um ajuste de contas de vinte anos atrás quando, companheiros da campanha que o fez prefeito, terminou mandando Marco  para escanteio.

Portanto, fora do toma lá dá cá, não existe outra possibilidade do entendimento concretizar-se, entre eles. As diferenças antigas, forjadas em traições e  ressentimentos, minaram  as chances dos dois celebrarem um pacto, com recompensas futuras.

É verdade que, ainda, resta  o salário de vice-prefeito para barganharem. Mas, este não me parece  ser  atrativo suficiente  para levar  Marco ou  Edineu a renunciar ao poder para, depois,  celebrarem a união política. A não ser que um deles esteja na condição preferir o pouco  que o nada.

Além do já dito, o que Edineu quer, é o mesmo que Marco Brito quer: o poder, que se materializa no comando da Prefeitura de Itororó.  Marco Brito procura-o de forma direta, com a própria candidatura, enquanto  Edineu tenta alcançá-lo  por meio da esposa Rita que ele acabou lançando em seu lugar, uma vez que não pode candidatar-se. Ele tenta, assim,  uma espécie de transplante político-eleitoral,  muito comum nos velhos  tempos, quando o marido tentava transferir à mulher e o pai aos filhos os  votos de seus eleitores.

Mas, como disse Karl Marx, “a história se repete: primeiro como tragédia, depois como farsa”. E é assim que vejo a  encenação política montada por  Marco Brito e Edineu Oliveira, para as eleições  deste ano.

Para os militantes históricos dos dois grupos, essa anunciada união é mesmo  uma tragédia. Ela  está alicerçada  na falta de respeito aos velhos  eleitores que, por mais de vinte anos, foram fiéis aos dois líderes. Por isso, se concretizada, ela  vai ter  o repúdio de todos aqueles que não aceitarão que os interesses pessoais de seus chefes estejam acima dos sentimentos  e da paixão político-partidária que cada um carrega.

Ela sofrerá também o repúdio  dos servidores públicos municipais que, por  meras razões  políticas,  foram  implacavelmente perseguidos tanto por Edineu como por Marco Brito, quando estes dirigiram os destinos do município, na condição de  prefeitos.

A anunciada união é  também uma farsa para as pessoas de bom senso, e sem compromissos políticos  com qualquer um  dos dois caciques. Elas  sabem que, assim como Marco,   também, Edineu não vai abrir mão de governar o município, mesmo que seja por meio de  sua esposa, para entregá-lo na bandeja a um   adversário político histórico ou, melhor dizendo, ao desafeto de longo anos.

Edineu pode não ser politicamente inteligente, mas não é burro. Ele sabe que, se Marco eleger-se prefeito nestas eleições, tentará  reeleger-se  daqui a quatro anos. Logo, qualquer promessa feita agora para retribuir o apoio político nas próximas eleições, não será cumprida. E o mesmo  vale para Marco Brito que, no início da década de noventa, viu Edineu, por meio de uma jogada política, destruir o seu sonho de sucedê-lo na Prefeitura.

A conclusão, é que  nem a  Edineu interessa a eleição de Marco, nem a Marco interessa a eleição de Rita. Para qualquer analista político, será mais inteligente e, politicamente, mais interessante para ambos  a reeleição do atual prefeito que, na próxima eleição, não poderá mais concorrer ao cargo,  deixando, assim, a disputa sem favoritos e  em condições de ser vencida por qualquer candidato.

Mas, então,  até quando a farsa da união política dos dois grupos vai continuar?  Certamente, até que os dois líderes fiquem convencidos de que ninguém vai apoiar ninguém.  Até lá, vamos continuar assistindo a toda essa encenação montada por eles  que continuarão sonhando  com um milagre político, capaz de fazer um deles desistir da candidatura  para dar apoio ao outro.

Texto: Djalma Figueiredo