EDITORIAL: APENAS DISCURSO NÃO BAIXA JUROS BANCÁRIOS
O brasileiro espera que a presidente da república consiga de fato baixar a taxa de juros incidente sobre o crédito, no país. “É inadmissível, disse Dilma, que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo”.
Acontece, como dizem os analistas da economia brasileira, que não basta um discurso forte e a pressão política da presidente para que os juros baixem. É, também, necessário que o governo faça a sua parte.
Primeiro, reduzindo as altíssimos impostos que incidem sobre o crédito e, depois, baixando o montante dos depósitos que os bancos são obrigados a manter no Banco Central. No Brasil, de cada 100 reais recebidos em depósitos à vista pelos bancos, 43 reais são transferidos ao Banco Central, na forma de depósitos compulsórios.
Também, de cada 100 reais que o brasileiro paga de juros aos bancos, R$25,50 vão custear a captação do dinheiro que os bancos fazem rotineiramente, no mercado. É o chamado custo do dinheiro. Outros 3 reais vão para o já falado depósito compulsório, que não gera lucro algum aos bancos. Outros R$16,30 são reservados para os impostos que os clientes pagam ao governo para usar o crédito bancário, e R$9,40 vão para as despesas administrativas realizadas pelos bancos. Ainda, dos 100 reais pagos pelos clientes na forma de juros, R$24,40 é a parte que cabe aos bancos, como lucro líquido. E, finalmente, R$21,40 é a parte que os bancos reservam para cobrir a inadimplência de clientes maus pagadores.
Por essa exposição, é possível acreditar que os juros bancários podem cair a menos da metade do que, atualmente, são cobrados. Inclusive, algumas taxas podem ser eliminadas, e outras podem ser altamente reduzidas.
Começamos pela reserva que os bancos fazem para cobrir possíveis perdas; em torno de 21,4% de todo juro arrecadado. Trata-se de um pesado encargo e um injusto castigo aos bons clientes que, por esse meio, vêm-se obrigados a pagar pelo calote dos maus tomadores do dinheiro.
Os bancos que, na verdade, são os únicos responsáveis por emprestarem displicentemente o dinheiro, não assumem risco algum. É, por essa e outras razões, que veremos a seguir, que o sistema bancário brasileiro é um dos mais sólidos do mundo, embora seja a inadimplência no Brasil uma das maiores que existe.
Para tentar resolver essa questão, criou-se uma lei no ano passado, sancionada em junho pela presidente Dilma, instituindo o chamado “Cadastro Positivo” de cada consumidor. Neles, deverão ficar registrado o histórico de pagamento de cada cidadão que, ao ser analisados pelas empresas de análise crédito, dirão se o cliente é ou não bom pagador.
Com ele, espera-se que o risco da inadimplência caia acentuadamente, e, consequentemente, os juros que os brasileiros pagam, possam ser reduzidos drasticamente. Entretanto, o governo até hoje não regulamentou a citada lei que, por esse motivo, ainda não recebeu a adesão dos bancos.
Do montante pago pelos clientes aos bancos, na forma de juros, 16,3% são reservados ao pagamento de impostos. Assim como outras, esta é também uma taxa extorsiva.
É por aí que o brasileiro percebe que o governo é insensível e ganancioso. Seu apetite por impostos não tem limites. E, o que é pior, não devolve quase nada do que recebe, na forma de benefícios ao povo. Portanto, se a presidente Dilma quer de fato que os juros baixem, ela vai ter de dar o exemplo, começando por mandar baixar os impostos que incidem sobre o crédito.
O lucro líquido de R$24,40 que fica para os bancos de cada 100 reais que eles arrecadam em juros, é escandaloso. Por isso, não é atoa que os banqueiros são a classe mais rica e poderosa deste país. Eles emprestam o dinheiro que recolhem do povo, na forma de depósitos e, depois, obtêm um lucro que supera o recebido pelo próprio dono do dinheiro. Será que, no mundo, existe um negócio melhor do que esse? Principalmente quando se sabe que, nesse negócio, não há riscos, nem prejuízos?
Finalmente, existem outras razões para a baixa dos juros bancários, como a queda repetida da taxa Selic, juros oficiais, que está reduzindo drasticamente o custo de captação do dinheiro no mercado e, também, a dispensa de recolhimento ao Banco Central de R$3,00 de cada 100 que o brasileiro paga de juros aos bancos.
Portanto, para o que os juros pagos ao crédito bancário reduzam-se no Brasil, é necessário que o governo brasileiro saia do discurso e entre na prática. Caso contrário, não vai acontecer nada de novo. Tudo continuará como antes, na casa de Abrantes.
É evidente que o que se pede para os juros bancários, também se pede para os juros cobrados pelas operadoras de Cartão de Crédito. Essas empresas são ainda mais perversas do que os bancos, porque induzem os que não podem ter um Cartão de Crédito a adquiri-lo para, depois, na forma de juros altíssimos, cobrarem dos que honram seus compromissos, os prejuízos que esses clientes acabam proporcionando ao sistema.
Há operadoras que chegam a cobrar de seus clientes taxas de mais de 20% ao mês, quer para o crédito rotativo como para o parcelamento da dívida. É um escândalo ou, melhor dizendo, é um autêntico assalto ao bolso do consumidor.
Texto: Djalma Figueiredo