Toda e qualquer transformação econômica e social de grande porte, ocorrida em uma nação ao longo do tempo,  começou pela evolução educacional  de seu povo. Os resultados alcançados, neste campo, por diversas nações provaram isso. E, mais recentemente, o êxito obtido pela   Coreia do Sul e  China que optaram por  este caminho, confirma a experiência de outras nações. Por que, então, o Brasil não começa a  pensar seriamente na mobilização da sociedade  para vencer, no máximo, em uma geração, o desafio de melhorar a qualidade da educação, como acaba de nos dizer o economista Maílson da Nobrega?

Vencer o atraso e o tempo perdido significa fazer do projeto educação uma grande prioridade nacional, para o qual uma parte expressiva do esforço  da nação tem de estar concentrado pelo tempo necessário.

Aparentemente, a tarefa não é tão hercúlea assim, porque outras nações, com potencial bem inferior ao do Brasil, mostraram-se capazes de realizá-la em prazo, surpreendentemente, curto. Afinal, vencer o atraso, como diz Maílson, resume-se em treinar professores, remunerá-los pelo critério do desempenho ou da produtividade, adotar horário integral nas escolas, ampliar a pré-escola e, claro,  adotar as demais medidas que se fizerem necessárias ao cumprimento do objetivo.

É verdade que, para a adoção e execução de um projeto desse porte,  a nação  precisaria  contar com a determinação inabalável de nossos governantes que, até então, deram preferência as obras de curto prazo e de maior visibilidade, junto às massas populares. O projeto educacional brasileiro, capaz de revolucionar integralmente a nação, demandaria vultosos recursos públicos e  duas a três décadas para apresentar  resultados, o que, certamente,  não o faz muito atraente aos olhos dos  políticos deste país, sempre imediatistas.  

Por isso mesmo, eles dão preferência a medidas de impacto e de resultados rápidos, ainda que  duvidosos, como o corte de 50 mil vagas em cursos universitários de baixa qualidade, executado pelo Ministério da Educação, na recente  despedida  do ministro Fernando Haddad.

As razões alegadas para o corte foram elevar a qualidade do ensino universitário e proteger a população de profissionais despreparados.  Entretanto, parece que os  técnicos  e os políticos que comandam  o Ministério,  não perceberam que a culpa para a existência de  profissionais despreparados não está apenas na falta de qualidade de alguns cursos de nível superior, mas, principalmente,  no arcaico ensino médio brasileiro que, raramente, capacita  o jovem estudante para ingressar em faculdades melhores.

O jovem que frequenta uma faculdade mal avaliada pelo MEC não o faz porque  está sendo enganado. Mas, porque ela é a melhor escola em que conseguiu entrar ou a mais acessível as suas condições financeiras. Se essa vaga for cortada, provavelmente, ele vai ficar sem estudar, porque suas chances  de ingressar na UFBA, na UESC ou em outras universidades do estado, são muito pequenas, considerando ao que ele  aprendeu    no ensino básico e ao reduzido número de vagas que ele vai disputar com milhares de outros jovens estudantes.

Portanto, a solução não é cortar vagas nas escolas ou eliminar cursos superiores. Mas, cada vez mais, o Estado criar novas universidades públicas  que aumentarão as chances do jovem estudante brasileiro ingressar em faculdades bem avaliadas. É, ainda e, principalmente, a nação compenetrar-se da necessidade de  realizar imediatamente a reforma do ensino básico, sem a qual será impossível melhorar a formação do profissional brasileiro. 

Os resultados da prova ABC, aplicada, no ano passado, aos alunos do 3º ano do ensino básico pelo INEP e por ONGs, em que ficou explícito que  60% dos estudantes não haviam aprendido o mínimo esperado para essa série em matemática e, 45%, em leitura,  deixam claro que a  educação brasileira passou a ser um entrave ao necessário desenvolvimento econômico e social do pais.

Hoje, é evidente que o problema mais grave da educação secundária brasileira, depois das questões de acesso às universidades, é o da inadequação de seu currículo à realidade contemporânea, e à própria vida dos estudantes. Esta inadequação, quando combinada com professores mal formados e pouco estimulados, transforma o ensino em um ritual burocrático e vazio de conteúdo, que poucos jovens têm interesse e motivação em seguir.

O fato de  não existir no Brasil discussões e propostas mais aprofundadas, relativas ao currículo da educação secundária, é um problema sério  que, urgentemente,  precisa ser resolvido. O normal seria esperar que estas discussões e propostas de reformas viessem das faculdades, secretarias estaduais e do próprio Ministério da Educação. Mas,  a simples ausência da  discussão já  é um sinal gravíssimo da falta de pessoas e instituições envolvidas de forma permanente e profissional com a problemática educacional.

Abrimos exceções para, apenas, alguns grupos dedicados ao ensino da ciência, amparados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e contando com o apoio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT) que existem em alguns departamentos universitários, e que desenvolvem um trabalho de criação de livros e materiais pedagógicos.

Texto: Djalma Figueiredo